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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Flores e seres humanos

Flores brasileiras e colar de "Welcoming" no primeiro dia na escola.

As flores. Terceiro assunto que abordamos em sala de aula. O primeiro foi introdução(segundo post) e segundo sobre descoberta, colonização e influencias na cultura brasileira (bem legal relembrar a história). 
Sobre as flores falamos de suas semelhanças com os seres humanos, capacidade de transformação, influencias externas no desenvolvimento e sensibilidade. Mostrei fotos, vídeos, como elas nos ajudam(ex: shampoo, chá, essencias medicinais da Amazônia, frutos), desenhamos, ajudamos plantando sementes e pensando em um bom sentimento para a flor (valores, coragem, sabedoria).
Somos sensíveis, como elas também, e hoje em sala de aula percebi que nas crianças essa percepção sutil, mesmo inconsciente, se faz presente.

Acordei e esperei dentro do quarto o sinal da segunda aula, a primeira fico livre. Levantei, andei três salas até chegar no VIIN, meninos de 10 a 13 anos. "Good Morning, take your seats" (eles devem receber os professores em pé). Como ontem montamos nossos nomes com verbos e palavras em inglês (J - to jump/jungle;U - to use/union) hoje iamos estruturar frases com verbos. Com o conteúdo no caderno e giz branco comecei a escrever no quadro. Ao longo da aula, durante a explicação e no momento para exercício houve conversa, mas em menor quantidade e volume do que o normal. Eu acho que eles perceberam que eu não estava 100%. Nas salas dos mais velhos não senti que eles tiveram essa percepção/compreensão, algumas meninas vejo cara de querendo oferecer amizade para me ver melhor e outras com nariz torto. Ueh, você é a professora!
Segui sem pedir silêncio durante o dia, me dei um dia de silêncio, mas não me fez bem. As crianças não são culpadas por eu me sentir despreparada, pelos meus ideais e sonhos que talves fujam a realidade. Fico mal de ver que perco oportunidades de passar coisas boas e até prejudico as pessoas ao redor por minhas inquietudes alterarem minha forma de agir.
Agora esta na hora de dormir, depois de conversar com minha mãe pelo skype, ler sobre educação espiritualizada,  sobre felicidade e outros assuntos de meu interesse, falar com amigos...me sinto melhor. Até consegui render trabalhando. 

Seres humanos e flores recebem influências externas que agem positiva ou negativamente no crescimento. Ambos nascem de uma união e dentro de uma "bola", nós ao longo da vida experimentamos diversas separações e temos conciência individual enquanto elas pensam no todo e, por isso, não perdem a conexão com o pai. Elas são a manifestão da beleza e mistério universal, representam o coração e a alma da planta, tem energias, são sensíveis e felizes naturalmente. Nós, além disso temos a consciência que nos dá a liberdade de escolha entre ser feliz ou infeliz e nos torna responsáveis por essa decisão.

Que a pureza das flores inspire a nossa decisão de ser FELIZ!




domingo, 17 de outubro de 2010

Dussehra - O bem vence o mal

Período de 10 dias Navratri Festival + Dussehra:
Descobri que esse período na Índia é de começo da colheita, portanto a deusa-mãe é chamada, como eu contei no último post, para iniciar a safra nova e reativar o vigor e a fertilidade do solo. As performances e rituais religiosos são também para invocar as forças cósmicas que rejuvenescem o solo.


No décimo dia, para encerrar os festejos do Navratri, comemora-se o Vijayadashami e a história dessa comemoração é a seguinte:
A sétima encarnação do Deus Vishnu, Rama, teve sua mulher, Sita, raptada pelo Rei Ravana. Ela foi levada para Siri Lanka ( reino de Ravana). Para resgata-lá Rama pediu ajuda a Durga, força feminina, e ela indicou o modo de obter sua mulher de volta. Houve uma batalha e Rama matou Ravana (o bem vence o mal).
Para marcar esse fato no décimo dia do Navratri, depois do pôr do sol, os indianos queimam imagem das divindades de Ravana, seu filho e seu irmão (mal). 


Eu, Ravana(meio), filho e irmão.

Eu fui até a praça aqui perto da escola ver eles queimando, teve palestra de um líder Hindu, fogos de artifício e depois botaram fogo no boneco com algumas músicas tocando falando o nome de Rama (bem).

Pegando fogo. Foi bem rápido.

Uma menina me falou "o homem (Ravana) errou uma vez só e todo ano é queimado", segundo o pai dela Ravana foi muito inteligente em vida.
É, e nós com tanta ignorância, afirmando ter razão e procurando a causa dos problemas ao redor ao invés de enxergar as emoções negativas internas, erramos tanto e tem vezes que até conseguimos justificar nossos erros, como mentiras e atos apenas pelo prazer próprio e momentâneo.
Sou contra matar por um erro e contra queimar em praça pública, sou a favor da verdade e da realidade presente que só é assim por que você passou por tudo que ficou no passado.
Para mim despertou questionamentos de condutas como mulher na sociedade, como valorizar essa força,energia, conhece-lá melhor, amar e respeitar como igual todas as mulheres e como cuidar melhor de minha mãe (obs: mesmo estando longe). Lembrei de erros do passado, quero que a verdade que busco na realidade atual esteja em nós pela prosperidade do bem.

(Para ouvir o mantra abaixo entre no link acima)
Vem surgindo um novo tempo,
Traz glórias do Divino,
Mais puros e atentos,
Nos tornamos canais do infinito

Mãe Divina eu quero ser,
Um filho realizado, 
E é perante o seu poder, 
Que me entrego pra ser libertado

Como o rio que corre para o mar,
Correntezas carregam o medo, 
Confiança para atravessar, 
A fronteira do Eu derradeiro

Não há desculpas para se escorar, 
Já foi dito a hora é esta,
O tempo é de se entregar, 
Abraçando o que ainda resta

Estou morrendo para o passado,
E nem anseio pelo futuro,
Minha coroa tem brilho dourado,
Provo o néctar do Amor maduro

Viva Virgem Maria!
Viva Nossa Senhora da Conceicao!
Viva a Rainha da Floresta!
Viva Yemanja!
Viva as mulheres!

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Navratri Festival

Desde o dia 8 de Outubro algumas mulheres, Hindus (seguidoras do Hinduísmo), estão em jejum. Comem apenas frutas e entram em abstinência de carne e ovo durante 9 dias.

Sobre carne: As pessoas não comem carne de vaca, pois ela é considerada um símbolo da Mãe Universal, ela nos fornece leite e merece ser bem tratada, alimentada e cuidada por nós (seres humanos). Carne de frango, cordeiro, etc... muitas casas comem. Porém, a maioria das mulheres Hindus que conheci não comem carne e  nem ovos normalmente.

O jejum é uma purificação durante os dias de festival. Esta adoração, louvor é para Mãe Durga(conceito feminino do divino poder) que neste festival é representada nove manifestações de diferentes Deuses Hindus, portanto cada dia é dedicado a um Deus. 
Os Hindus acreditam na onipresença Divina, mas possuem mais de 300.000 Deuses (ele/ela - os Deuses devotados podem mudar conforme a região da India) que manifestam a Divindade.


Resumo: Navratri é celebrado com fervor no Norte da India fazendo o jejum e louvando a Mãe Divina em suas diferentes formas, durante nove noites.
Os dias de cerimônia mudam conforme o ano, em 2010 está sendo de 8 a 16 de Outubro(meio do mês lunar com o Dia de Nossa Senhora Aparecida no meio!). A data do Festival 'a Divina força feminina é determinado pelo calendário lunar - de acordo com a influencia solar e as estações encontra-se o momento sagrado de louvor.


Durante acontecem as rezas e pode-se comer uma comida "especial", batata feita com os condimentos daqui e frita, tipo um salgadinho(não entendo de cozinha) e um doce feito com batata que por íncrivel q pareça me lembrou brigadeiro sem nescau(huum, comer eu sei bem rs). Fora isso deve abster-se de tudo.

No dia 8 a noite começou e em frente a escola participei de uma cerimônia, segue o vídeo do incio. Incenso, oferendas, vela, flores:
Shera Wali Mata (Deusa no leão - imagem central do altar)

Trajes representam Deuses.

Muita música, dança, palmas e bandeirinhas.

Hoje, depois da escola, fui convidada pela secretária e passei a tarde em sua casa. A noite, após comer a comida "especial" fizemos um pequeno Puja (reza, ofertas, louvor, adoração).  Segue o vídeo:
Hema(secretária) avisando que agora é minha vez.

Canto - Hindi.

Minha vez. Vela, canto e respeito.


Tentei explicar um pouco desse festejo, quando souber mais continuo...

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Primeira visita ao templo

Esse acontecimento foi ontem, mas mesmo atrasada vou escrever sobre, pois foi um turbilhão de emoções que despertou em mim.

Espaço grande e verde. Frequentadores trabalham cuidando do gramado. Templo.


Último dia na casa da família do diretor, último dia do final de semana(feriado) de aniversário do Mahatma Gandhi e uma vontade grande de conhecer o  espaço verde, amplo de onde ouço mantras do meu quarto. Bom, como ninguém falou de programação nenhuma, é pra lá que eu vou...
Acordei, todos estavam no quarto da avó. "Good morning, i would like to go to the temple next here". "Ok, I will call aunt and she goes with you". Algumas pessoas são chamadas de Aunt, geralmente empregadas.
A moça, vizinha, passou em casa e caminhamos até a sessão que estava começando. Não pode esquecer da dupatta, véu na cabeça, sem isso mulheres não entram nos templos, é sinal de respeito.
Bastante gente sentada no chão, de um lado homens do outro mulheres, "fiscais" de roupa branca organizam todos enfileirados. No palco de frente uma mulher da uma palestra e entre suas faladas um homem canta mantras. Eu reparo, fecho os olhos e me concentro, não entendo uma palavra, mas só de estar ali estou satisfeita compreende.
Uma hora mais ou menos, na saída passamos na livraria e eu ganhei um livro que fala sobre a mulher na sociedade, muito bacana da parte da didi (irmã em hindi). Caminhamos e no final ela me deu um abraço, nooossa quanto tempo não era abraçada assim, valeu.

Entrei em casa e Radjeep e Avó (Tejinder Kaur) estavam conversando sobre alguns catálogos de outras escolas para eles produzerem o da Playways High School, derrepente ela vem até mim e me dá um bem grande, de forma estúpida, dizendo para eu fazer minha aula daquele jeito. "Oi?" É, algo não estava bem.

As pessoas sempre ficam conversando ao meu redor, falam de mim, e por ser em Hindi é incompreensível, mas no meio dessa língua eles sempre falam algumas palavras em inglês, uma boa mistura. E percebi que ela comentava sobre eu ter ido ao templo.
Após almoço ela me comunica que todos vão a um encontro no Templo Sikh que eles frequentam e como eu vou estar dormindo, pois é logo após o almoço, que ai eles irão trancar a porta da casa. "Ok, não fui convidada, já entendi o recado".
Sobre a minha tarde sozinha no quarto tentando entender o que eu estava fazendo ali, não preciso detalhar.
O propósito desse post além de contar a experiência é dizer que DEUS é um só.

A sociedade aqui tem regras, bem claras. Quando cheguei aqui eu disse no discurso incial na escola que eu iria respeitá-los com o devido merecimento, porém em poucos dias sei que não tenho essa capacidade, pois desconheço essa desigualdade. Sei, de verdade, que eles merecem mais do ainda tenho pra dar, to me esforçando para aprender mais a respeitar.
Isso tudo foi uma conclusão minha, sem fatos. Acredito que o comportamento que senti foi por ter ido em outra religião e não ter ficado com eles em casa.

O dia terminou bem, eu e a avó assistimos a abertura dos jogos em Nova Delhi pela TV, muita dança, cor e vida. Vivendo e aprendendo.

Pra encerrar:
God has no religion”. Mahatma Gandhi

sábado, 2 de outubro de 2010

A família

Dia 2 de Outubro de 2010, aniversário de Mahatma Gandhi, líder político e espiritual na época que a Índia conquistou a independencia dos ingleses, "Father of the Nation" tinha a filosofia de não-violência. Feriado nacional, dia de descansar em casa, leitura e tempo para o blog.

Mani, Asis e Rajdeep

Desde que cheguei na Índia moro com uma família, os fundadores da escola em que trabalho. A avó, Tenjider Kaur, responsável pelo ínicio da PlayWays High School no ano de 1975, atualmente trabalha como diretora do campus de educação infantil, seu neto Mrs. Radjeep Singh, diretor do ensino fundamental e médio (meu chefe e facilitador por aqui)  é casado com Mani tem um filho de 1 ano e meio o Asis. Os 3 moram juntos com 1 empregada e sua filha.
A 17 dias estou com eles, no bom quarto de hospedes com cama de casal, varanda enorme com vista para uma área verde de um templo, closet e banheiro sem papel higiênico, mas limpo. Na frente da cama uma foto da mãe do Radjeep, falecida em um acidente de carro a mais de 10 anos, abaixo e ao lado da Tv uma imagem de Krishna, na parede em cima da cama um quadro que o Radjeep desenhou quando tinha 17 anos, o desenho é de uma pequena igreja no meio de um campo com 3 arvores, as cruzes indicam que a igreja é cristã. Antes de dormir é pra ele que eu olho.
A família é da religião (casta) Sikhism, cs sobrenome deles representam a casta que são, os cabelos longos sem cortar também, o homem sempre de turbante e as imagens dos 10 gurus espalhadas pela casa. Conhecem políticos da cidade e frequentam festas de pessoas conhecidas por aqui, tem boa condição social e vivem em um bairro tranquilo de casa grandes.

Gosto de morar com eles, são atenciosos, me ensinam bastante sobre os costumes. Claro, tudo tem os dois lados da moeda, mas com certeza são perfeitos para o que preciso. O Asis é um bebê fofo, carinhoso, me dá alegria ter ele por perto.

Quando acordei a avó perguntou se eu sabia quem era Mahatma Gandhi, "just a little". Nas notas de dinheiro, Rupees, tem fotos dele, ela me contou pela segunda vez.


“The Roots of Violence: Wealth without work, Pleasure without conscience, Knowledge without character, Commerce without morality, Science without humanity, Worship without sacrifice, Politics without principles” 


“Be the change you want to see in the world.”

Parabéns Mahatma Gandhi!
Obrigada família Indiana!